Jesus morreu e depois ressuscitou. Mas, em seguida, como a Igreja Primitiva, lá no primeiro século, falava de Cristo? Essa é uma pergunta essencial para quem busca profundidade na fé. Será que todo mundo tinha o mesmo discurso, ou existiam algumas diferenças e nuances na maneira de falar sobre o Evangelho?
Como eles comunicavam isso? A Igreja, afinal, era sempre unida desde o início, ou havia algumas nuances e diferenças entre as tradições dentro do cristianismo no primeiro século?
São essas dúvidas profundas que vamos dialogar aqui hoje. Portanto, o meu objetivo é te ajudar a entender e compreender quais eram as tradições de ensino do Evangelho que existiam naquele momento, naquela região. Muitas vezes, a gente lê a Bíblia hoje e não entende as sutilezas que cada autor (Mateus, João, Paulo) trazia, o que é um grande erro.
Essas nuances, querendo ou não, foram construindo uma tradição, especialmente para aquelas pessoas que mais ouviam, por exemplo, de Paulo, de João ou do próprio Pedro. Assim, cada apóstolo trazia o seu conhecimento pessoal de Cristo, o seu entendimento de quem era Jesus, e isso é o que criou essas ricas tradições que estudaremos agora.
- As Três Faces de Cristo: Definindo Como o Evangelho Era Transmitido
- Por Que Entender Como o Evangelho Era Transmitido é Crucial Hoje
- Como o Evangelho Era Transmitido na Prática: Do Kerygma ao Discipulado
- Escrituras para Aprofundar o Estudo: Heróis e Seus Evangelhos
- Passo a Passo: Guia Para Entender o Evangelho em sua Plenitude
- Conclusão
As Três Faces de Cristo: Definindo Como o Evangelho Era Transmitido
Entender como o Evangelho era transmitido desde o primeiro século é mergulhar na riqueza de um diamante. O Evangelho é o diamante, mas a depender do ângulo que você olha, você consegue identificar diferentes nuances e diferentes visões desse mesmo objeto que é rico, maravilhoso e que nos ensina muita coisa. Não estamos falando de certo ou errado, mas de ênfases.
O grande valor é que, ao juntarmos essas visões, o nosso conhecimento bíblico se enriquece, o que aprofunda também o nosso relacionamento com Deus.
A. O Fogo da Tradição Paulina: Cruz e Missão
A Tradição Paulina, é claro, está muito relacionada a Paulo, mas se estende para Marcos, Lucas e o livro de Atos, o que mostra seu alcance. Paulo enfatiza demais a Cruz de Cristo e a Ressurreição, pois esses são os pilares da fé que ele pregava. Para Paulo, a morte e o retorno de Jesus não eram apenas eventos históricos; eram o centro do plano de salvação.
Além disso, Paulo traz muito a questão da salvação para os gentios e o lado missional da Palavra de Deus. Ele enfatiza esse chamado de Cristo para alcançar todos os povos, para ir a todas as nações e alcançar os excluídos e os pobres. Portanto, essa tradição reflete a universalidade do Evangelho: Jesus não veio só para Israel, mas para o mundo inteiro, o que era revolucionário para a época.
B. O Fundamento do Cristianismo Judaico: Lei e Messias
O cristianismo judaico representa o grupo de pessoas que eram judeus e que, ao mesmo tempo, acreditaram na figura de Cristo, reconhecendo Jesus como seu Senhor, o Messias prometido pelos profetas do Antigo Testamento. Eles não negavam suas origens religiosas, o que é importante.
Assim, eles continuavam com muitas tradições e pensamentos judaicos, mas agregavam a isso a crença em Jesus Cristo e os ensinamentos e valores do Reino que o Messias ensinava. Essa tradição é muito representada pelos livros de Mateus e Tiago, por exemplo. O que eles enfatizavam? A importância da Lei Judaica e, principalmente, das boas obras. Eles buscavam alinhar o que se falava (a fé) com aquilo que se fazia (a prática), o que enriquece demais o nosso entendimento da fé viva.
C. A Profundidade da Tradição Joanina: Logos e Encarnação
A Tradição Joanina, baseada nos ensinamentos do apóstolo João, é diferente e dialoga mais com a cultura greco-romana, ou seja, com os gentios e romanos. Por isso, João traz muitos conceitos e palavras que não eram muito utilizadas em outras tradições, como Amor, Luz, Logos e Conhecimento.
Essa tradição enfatiza o dualismo dos mundos, falando do Reino de Deus (o mundo eterno) e do mundo das coisas terrenas. O ponto mais forte em João, no entanto, é a Encarnação de Cristo: o entendimento de que Deus todo-poderoso, o Alfa e o Ômega, o “Eu Sou”, se fez carne em Jesus. Para João, Jesus é o Filho e também, ao mesmo tempo, o próprio Deus dentro da Trindade, o que é um ponto muito forte e que foi essencial para a doutrina cristã se estabelecer.
Por Que Entender Como o Evangelho Era Transmitido é Crucial Hoje
Entender como o Evangelho era transmitido no início da Igreja não é apenas um exercício de história bíblica. É, na verdade, uma ferramenta poderosa que nos ajuda a valorizar a Palavra de Deus em sua totalidade, o que traz unidade e riqueza para a nossa fé hoje. Vivemos em um tempo onde as pessoas tendem a “filtrar” a Bíblia, escolhendo apenas o que é confortável, e isso é um perigo.
O estudo das tradições nos protege dessa visão limitada e nos oferece uma perspectiva mais ampla da obra de Cristo.
A Riqueza do Diamante e o Crescimento
Cada tradição (Paulina, Judaico-Cristã, Joanina) enfatiza uma “face” desse diamante, revelando a totalidade de Cristo. Por exemplo, a visão de João nos traz a divindade eterna de Jesus, enquanto a de Paulo nos lembra de Sua humanidade e sacrifício na cruz.
Quando a gente coloca essas três visões juntas, elas ganham uma riqueza sem igual. Além disso, a tradição Judaica Cristã enriquece demais, trazendo contextos que a gente às vezes não compreende da Bíblia, tradições que o próprio Jesus tinha e que são muito interessantes de a gente entender, ressignificar e aplicar no nosso dia hoje, o que fortalece a nossa fé.
Unidade na Diversidade
O mais bacana de analisar tudo isso é que as tradições cristãs já se diferenciavam desde o início. Isso deve nos gerar muita fé e nos ensinar a respeitar o Corpo de Cristo. O Espírito de Deus estava trabalhando nessa comunidade de fé mundial (a Igreja) para que as pessoas pudessem se aproximar cada vez mais de Deus, o que é a essência do Evangelho.
Afinal, se desde o primeiro século existiam ênfases diferentes – alguns focados mais na Lei (Tiago), outros no Amor/Logos (João), e outros na Missão/Graça (Paulo) –, nós, hoje, precisamos valorizar essas diferentes pontes que podemos fazer com outras denominações e com outras pessoas de outras igrejas. A diversidade de visões, quando centrada em Jesus, gera unidade e maturidade, o que é o propósito de Deus para a Sua Igreja.
Contexto e Alcance da Mensagem
Entender essas tradições nos ajuda também a contextualizar a pregação. Por exemplo, João, ao usar termos como Logos (Verbo), dialogava diretamente com o pensamento filosófico grego, o que é genial. Ele estava adaptando a linguagem para que os gentios pudessem entender que Jesus era a sabedoria e a razão que eles buscavam.
Portanto, o estudo de como o Evangelho era transmitido nos dá uma lição prática: o Evangelho precisa ser relacional e real. Ele precisa fazer sentido para a nossa cultura, sem perder a sua verdade. Assim, quando vemos a profundidade de João (a encarnação), a universalidade de Paulo (a cruz e os gentios) e o fundamento de Mateus/Tiago (o Messias e a Lei), percebemos a abrangência e a profundidade que Deus planejou para Sua Palavra, o que nos inspira a pregar com mais inteligência e paixão
Como o Evangelho Era Transmitido na Prática: Do Kerygma ao Discipulado
A diversidade das tradições não significava desorganização, mas sim uma adaptação da mensagem para diferentes públicos, o que era crucial. Como o Evangelho era transmitido no dia a dia ia desde a proclamação pública e impactante até o ensino detalhado e profundo, seguindo dois pilares.
Da Proclamação (Kerygma) à Instrução (Didaché)
O ensino da Igreja Primitiva se baseava em duas formas principais:
- O Kerygma (A Proclamação): Essa era a mensagem central e urgente, o resumo do Evangelho. Era a pregação que Paulo fazia nas praças, focada nos fatos: Jesus morreu por nossos pecados, ressuscitou e é o Senhor. O Kerygma de Paulo era centrado na cruz e na ressurreição, o que era o ponto de virada para a conversão.
- O Didaché (O Ensino): Depois da conversão, vinha o Didaché, que era o discipulado e a instrução prática. Por exemplo, a tradição Judaico-Cristã (Tiago e Mateus) era fundamental nessa fase, ensinando a importância da ética, das boas obras e de como o Messias cumpriu a Lei. A Tradição Joanina, por sua vez, aprofundava a doutrina de Cristo, ensinando quem Ele era na Sua essência divina.
Escrituras para Aprofundar o Estudo: Heróis e Seus Evangelhos
Para mergulhar de verdade em como o Evangelho era transmitido, nada melhor do que estudar os heróis bíblicos que carregaram essas bandeiras. Eles não eram apenas teóricos; eles eram a personificação dessas tradições, e suas vidas nos ensinam a viver o Evangelho de forma mais completa.
A Cruz e os Gentios (Romanos e Gálatas)
Paulo é o exemplo máximo da Tradição Paulina. A sua vida era uma prova viva da graça.
- O Foco na Graça: Estude Romanos e Gálatas para entender a ênfase na salvação pela fé, e não pelas obras da Lei. Isso liberta a nossa consciência e nos foca no sacrifício de Jesus.
- O Chamado Missional: Em Atos, vemos Paulo e Barnabé enfrentando desafios para levar a Palavra aos gentios, o que era a grande missão dessa tradição. Isso deve nos inspirar a olhar para além dos muros da nossa igreja e a amar as nações.
- A História: Sua conversão radical (Atos 9) é um exemplo de que o Evangelho tem poder para transformar o mais fervoroso inimigo em um dedicado apóstolo. É uma história de impacto!
A Lei e o Messias: Mateus e Tiago
O Evangelho de Mateus e a Epístola de Tiago representam a tradição Judaico-Cristã. Eles não negam a Lei, mas a elevam a um padrão espiritual cumprido por Cristo.
- O Messias Prometido (Mateus): Mateus começa com a genealogia de Jesus, conectando-o diretamente a Abraão e Davi. Ele cita o Antigo Testamento mais do que qualquer outro Evangelho, o que prova que Jesus é o cumprimento da promessa.
- Fé e Obras (Tiago): Tiago, o irmão de Jesus, foca na ética: “A fé sem obras é morta” (Tiago 2:17). Isso nos ensina que a crença (o Kerygma de Paulo) deve ser seguida pela prática (o Didaché da tradição judaica). É a prova de que o seu coração foi transformado.
O Discípulo Amado (Evangelho de João)
João, o discípulo amado, nos dá a chave para a divindade de Jesus.
- O Logos Eterno: O famoso início do seu Evangelho, “No princípio era o Verbo (Logos), e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1), é o resumo da sua tradição. Ele enfatiza a Encarnação e o Amor divino.
- O Dualismo: João explora a dualidade entre Luz/Trevas, Vida/Morte, o que nos ensina sobre a batalha espiritual e a vitória de Cristo. Isso nos dá a esperança de que o nosso sofrimento aqui é temporário, e a nossa herança é eterna.
Passo a Passo: Guia Para Entender o Evangelho em sua Plenitude
Para que a sua fé seja completa e madura, você precisa absorver a riqueza das três tradições. Este guia prático de estudo vai te ajudar a montar o quebra-cabeça e a entender como o Evangelho era transmitido em toda a sua glória.
O segredo, então, é estudar a Palavra usando as três lentes:
- Lente Paulina (Missão): Ao ler a Bíblia, pergunte: “Como essa passagem me chama a viver em sacrifício e a alcançar o mundo?”
- Lente Judaico-Cristã (Ética): Pergunte: “Como essa passagem me ensina a amar o próximo e a alinhar minhas ações com a minha fé? O que ela exige de mim na prática?”
- Lente Joanina (Devoção): Pergunte: “O que essa passagem me revela sobre a pessoa de Jesus, a Sua divindade e o Seu amor eterno?”
Ao juntar essas perguntas, você garante que está absorvendo o Evangelho em sua totalidade, sem negligenciar a doutrina, a ética ou a missão. Assim, você entende verdadeiramente como o Evangelho era transmitido e aplica essa riqueza hoje.
Ao seguir esses passos, você une a Graça (Paulo), a Divindade (João) e a Ética (Tiago/Mateus), o que te dá um Evangelho completo, forte e maduro.
Conclusão
Vimos que a pergunta como o Evangelho era transmitido nos leva a uma jornada incrível pelas três grandes tradições da Igreja Primitiva: a Paulina, a Judaico-Cristã e a Joanina. Nenhuma estava errada, mas cada uma enfatizava uma face do diamante de Cristo:
- Paulo nos deu a base doutrinária: a Cruz, a Ressurreição e a Graça.
- A Tradição Judaico-Cristã nos deu o fundamento ético: Jesus é o Messias que exige uma vida de boas obras.
- João nos deu a profundidade teológica: Jesus é o Logos, o Deus eterno que se fez carne.
A nossa fé, hoje, é o resultado dessa união rica e complexa. Portanto, o Evangelho só é vivido em sua totalidade quando unimos a Graça, a Ética e a Divindade de Cristo.
Eu te encorajo a mergulhar nas Escrituras com essa nova perspectiva.
Qual dessas três tradições você acha que é a mais negligenciada na Igreja hoje? Vamos ajudar uns aos outros a valorizar a Palavra de Deus em sua plenitude!


